• Dolabela & as derivas contemporâneas do tempo

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16 de setembro de 2021 por 

Na transição dos anos 1999 para 2000 até o início de 2007 o jornal Hoje em Dia publicou, semanalmente, aos sábados, no caderno de Cultura, crônicas do Marcelo Dolabela, ilustradas por colagens produzidas por ele próprio, na contracapa do caderno. Após atuar como repórter entre os anos de 1994 e 1996, em 2000 eu retornava à editoria na condição de editor adjunto e uma das páginas que fechava era, precisamente, a página 8, esta, da contracapa. Assim, boa parte do material desta seção no site advém dessa produção, mas não é exclusiva a ela. Também teremos textos que reproduzem ou funcionam como pequenas pílulas de ensaios maiores sobre lançamentos e espetáculos que Dolabela preparava – além de entrevistas, depoimentos e outras produções dirigidas à imprensa, sobretudo mineira.  

Trabalhamos juntos alguns anos antes na Prefeitura de Belo Horizonte, mas muito pontualmente, por ocasião do BHRIF – BH Rock Independente Festival: Dolabela pela Comissão BH 100 anos (pela qual também faria série de eventos importantes de poesia), eu pela Secretaria Municipal de Cultura. Já conhecia o Dolabela de breves encontros no Maletta e alguns deles foram essenciais para que eu produzisse minha dissertação sobre o rock de BH em 1999. Um ano depois, nos reencontramos profissionalmente não só na contracapa do jornal, mas também na sala dos professores do UNI-BH, campus Lagoinha, onde atuávamos como docentes do curso de Comunicação Social (Marcelo também Letras), sendo sempre a sexta-feira à noite uma das datas recorrentes de nossas aulas. Ótima coincidência pois nos reencontrávamos ao final do expediente na sala dos professores para dali dividir um táxi, sentar e sextar no Maletta. E ali, junto com a primeira cerveja, normalmente o Marcelo pedia um comentário sobre a crônica do sábado da próxima semana, que ele praticamente já havia escrito e então resumia em breves palavras. Sábado da próxima semana porque, no esquema de fechamento do jornal, o caderno de sábado tinha que estar concluído às 17 horas de sexta. Era comum também ele já me passar a ilustração-colagem desta crônica nesta ocasião. Portanto, tudo o que conversávamos ali no início da noite era já referente à edição de sábado da semana seguinte. Marcelo normalmente enviava o texto ao meu e-mail profissional – eventualmente o pessoal. E, quando a colagem não me era repassada naquela mesma sexta, ele o fazia em algum outro dia de encontro no UNI-BH ou, casos mais raros, eu solicitava o carro do jornal e rapidamente pegava com ele na porta do prédio da rua Grão Mogol, onde então morava.

Posso dizer que foi um privilégio poder editar as crônicas do Marcelo Dolabela no jornal nestes três anos em que eu estive lá (saí em março de 2004). Muitas dessas conversas e leituras me foram muito caras e importantes não só como formação, debate, mas, sobretudo, introdução não só ao universo temático que ele abordava, como também à sua própria maneira de escrever e ver o mundo, tanto em delícia como em dissabor. Assim, as crônicas de Marcelo Dolabela são uma excelente e rápida vitrine viva de toda a sua prolífica produção e de seus múltiplos engajamentos nas mais diversas searas artísticas. Aqui temos o músico, o poeta, o professor, o ensaísta, o enciclopedista e, também, inclusive, vejam só, o cronista. Concentradas naquele espaço do jornal – normalmente uns 4 a 5 mil caracteres –  não raras vezes algumas tinham que ser repartidas ao longo das semanas, a depender do assunto. Em outros casos, a pena era incrivelmente prolífica e merecia uma concentração editorial no dia. Daí eu me permitia negociar diretamente com o editor Roberto Mendonça, sempre receptivo, um maior espaço e até mesmo, eventualmente, chamadas na capa – por exemplo, quando da morte do poeta Paulo Leão; o aniversário de morte do poeta amigo Juca, dos tempos dos Cemflores e do compositor John Cage. De toda forma, continua sendo incrível perceber a maneira como Dolabela flana por vários tópicos – seja motivado pelo calor do momento, por alguma efeméride, por uma observação cotidiana, uma reflexão, uma peça ou álbum lançado. 

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